17 de março de 2009

Um dia, há muitos anos, ofereceram-me um livro de António Botto

Já fez 50 anos que António Botto morreu...

António Tomás Botto (Concavada, Abrantes, 17 de Agosto de 1897 — Rio de Janeiro, 16 de Março de 1959) foi um poeta português.

A sua obra mais conhecida, e também a mais polémica, é o livro de poesia Canções. Foi amigo pessoal de Fernando Pessoa que traduziu em 1930 as suas Canções para inglês, e com quem colaborou numa Antologia de Poemas Portugueses Modernos.

À memória de Fernando Pessoa

Se eu pudesse fazer com que viesses
Todos os dias, como antigamente,
Falar-me nessa lúcida visão -
Estranha, sensualíssima, mordente;
Se eu pudesse contar-te e tu me ouvisses,
Meu pobre e grande e genial artista,
O que tem sido a vida - esta boémia
Coberta de farrapos e de estrelas,
Tristíssima, pedante, e contrafeita,
Desde que estes meus olhos numa névoa
De lágrimas te viram num caixão;
Se eu pudesse, Fernando, e tu me ouvisses,
Voltávamos à mesma: Tu, lá onde
Os astros e as divinas madrugadas
Noivam na luz eterna de um sorriso;
E eu, por aqui, vadio de descrença
Tirando o meu chapéu aos homens de juízo...
Isto por cá vai indo como dantes;
O mesmo arremelgado idiotismo
Nuns senhores que tu já conhecias
- Autênticos patifes bem falantes...
E a mesma intriga: as horas, os minutos,
As noites sempre iguais, os mesmos dias,
Tudo igual! Acordando e adormecendo
Na mesma cor, do mesmo lado, sempre
O mesmo ar e em tudo a mesma posição
De condenados, hirtos, a viver -
Sem estímulo, sem fé, sem convicção...
Poetas, escutai-me. Transformemos
A nossa natural angústia de pensar -
Num cântico de sonho!, e junto dele,
Do camarada raro que lembramos,
Fiquemos uns momentos a cantar!

(retirado da net)

5 comentários:

Mare Liberum disse...

Gosto muito de poesia e raro é o dia em que não leio uns quantos poemas assim como quem traga uma iguaria.

Ontem li outros poemas de António Botto mas este também é lindíssimo. Autor e sujeito poético são a mesma pessoa.

Bem-hajas!

Papoila disse...

Magnífico e actualíssimo este poema de António Botto à memória de Fernando Pessoa!
"Isto por cá vai indo como dantes;
O mesmo arremelgado idiotismo
Nuns senhores que tu já conhecias
- Autênticos patifes bem falantes...
E a mesma intriga: as horas, os minutos,
As noites sempre iguais, os mesmos dias,
Tudo igual!"
Beijos

helia disse...

Gosto dos Poemas de António Botto e conheço alguns.É sempre agradável lê-los

Riscos e Rabiscos disse...

Muito bonito o poema, um bálsamo para ir dormir de alma lavada :-)
Obrigada

gaivota disse...

lindo, como antónio botto sabia dizer!
também tenho um livro dele há muitossssssssss anosssssssss
obrigada por o teres recordado
"enfim, gosto!"
beijinhos

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