por Ana Suspiro e Inês CardosoArlindo de Carvalho, ex-ministro da Saúde de Cavaco Silva, esteve ontem toda a tarde a ser interrogado devido às suspeitas de ter participado em negócios fictícios de propriedades para encobrir prejuízos do grupo SLN/BPN. À entrada para o Tribunal Central de Instrução Criminal, o advogado João Nabais afirmou que Arlindo de Carvalho está disponível para colaborar com a justiça.
Em causa estão negócios da imobiliária Pousa Flores, de que o antigo ministro é gerente em sociedade com José Neto (também constituído arguido, assim como Ricardo Oliveira). A Unidade Nacional de Combate à Corrupção da PJ está a investigar, no processo liderado pelo procurador Rosário Teixeira, ligações entre financiamentos do BPN àquela sociedade e aquisições, algumas delas fictícias, que seriam assumidas, a pedido de Oliveira Costa, para diluir os elevados prejuízos do BPN.
Um dos casos é a Herdade da Miséria, uma propriedade de 200 hectares no concelho de Lagos que terá sido adquirida por 38 milhões de euros, apesar do valor de mercado não ir além do milhão. Adquirido pelo BPN à sociedade imobiliária Brick and Sand, o terreno tinha sido alvo, em Março de 2006, de um levantamento da proibição para ser ocupado urbanisticamente.
Numa acta datada de 12 de Fevereiro de 2008 e que foi entregue na comissão parlamentar de inquérito ao BPN, Oliveira Costa elencou imóveis com situação não consolidada e afirmou que a herdade foi assumida por Arlindo de Carvalho. "Esta herdade é 100% SLN, mas encontra-se neste momento 50% em nome do Sr. Dr. Arlindo de Carvalho e 50% Partinvest Imobiliária", lê-se na acta da referida reunião.
Segundo notícias recentes, a Pousa Flores comprou, com crédito do BPN, activos ao grupo Ricardo Oliveira no valor de 75 milhões de euros. O banco terá assumido o compromisso de comprar esses activos. A teia de negócios ruinosos para o banco é complexa e implica ligações entre mais de uma dezena de empresas.
Activos da IPE A actividade da imobiliária Pousa Flores iniciou-se em 2002, alegadamente depois de Arlindo de Carvalho e José Neto terem comprado uma parte dos activos imobiliários da Investimentos e Participações Empresariais (IPE), na sequência da extinção da holding estatal decidida quando Manuela Ferreira Leite era ministra das Finanças. A notícia da compra de activos da Sociedade Geral, gestora imobiliária do grupo IPE, chegou a ser avançada pelo jornal "Independente".
Uma auditoria do Tribunal de Contas à liquidação da IPE revela apenas que a Sociedade Geral foi vendida por 36 milhões de euros a quadros, através de um MBO ("management buy out"), na sequência de uma avaliação independente.
Arlindo de Carvalho e a sociedade Pousa Flores tinham créditos superiores a 600 mil euros no Banco Insular. Arlindo de Carvalho tinha uma conta em depósito descoberto no valor de 305 mil euros, de acordo com a auditoria feita pela Mazars em Agosto do ano passado, a pedido da gestão do BPN, então liderada por Miguel Cadilhe.
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