31 de maio de 2009

Miguel Sousa Tavares - Eu identifiquei-me com muitos dos aspectos deste artigo. Qual é a sua opinião?

Tejo e tudo o que resta

Começo por me reportar ao excelente texto da Clara Ferreira Alves, no último número da revista Única, acerca da construção da sede da Fundação Champalimaud, em cima do Tejo, em Pedrouços. Eu próprio já aqui tinha aflorado o assunto duas ou três vezes, como exemplo último do saque do rio à nossa cidade. Na altura, fui convidado para almoçar, através de um amigo comum, com um simpatiquíssimo administrador da Fundação, que me explicou que a localização privilegiada se justificava pela necessidade de atrair para Portugal cérebros renomados na área da investigação médica - e eles, muito compreensivelmente, gostam de trabalhar com o rio aos pés. A explicação não me convenceu muito e eu voltei ao assunto e voltei a ser convidado para novo almoço, a que já não fui: nem mesmo um salmonete de Sesimbra e um Pêra Manca podem contrariar a realidade que ali está a nascer - 60.000 metros quadrados de construção, alguns 200, 300 metros de frente de rio roubados à cidade e... em terrenos públicos.
Aliás, e com todo o respeito que sempre tive pela presidente da Fundação, Leonor Beleza, eu acho que ela traiu a vontade do fundador. António Champalimaud foi dos raríssimos portugueses que fizeram uma Fundação, não para se glorificar em vida, mas para doar post mortem, não para fugir ao fisco ou sacar património ao Estado, mas para dar: deu 500 milhões de euros para a investigação do cancro. Berardo fez uma Fundação que, depois de ter ocupado um edifício municipal em Sintra, passou a ocupar a totalidade da área de exposições do CCB; Saramago fez outra que, em troca da perenidade do culto da sua pessoa e de umas vagas conferências, sacou a Casa dos Bicos. Champalimaud não quis sacar, quis dar. Mas, infelizmente, a sua executora testamentária, não pensou igual: Leonor Beleza começou por perder uma eternidade de tempo a tentar que a deixassem construir a sede da Fundação no Guincho, em terrenos vedados à construção da Área de Paisagem Protegida. Como o não conseguiu, virou-se para a beira-Tejo e convenceu a Câmara de Lisboa a suspender o PDM para autorizar aquilo. Esta figura jurídica da suspensão do PDM é, aliás, o retrato fiel de como funciona o país: fazem-se excelentes leis e excelentes planos para tentar limitar o deboche urbanístico, mas, depois, há sempre uns casos excepcionais, para os quais, e movendo as devidas influências, se consegue suspender o PDM, aprovar o projecto que se quer e que o contrariava, e depois repor o PDM em vigor para a arraia miúda. Faz-me lembrar o Albarran, quando suspendia a carteira profissional de jornalista para fazer publicidade (vedada aos jornalistas pelo estatuto e código deontológico), e, uma vez gravado o anúncio, pedia a carteira de volta e 'regressava' ao jornalismo. É o nosso mal, e o nosso mal a todos os níveis: seríamos um excelente país e um excelente povo, se não fossem as excepções: a possibilidade de se suspender os bons princípios, a moral e os valores apregoados, para satisfazer uma necessidade passageira e logo a seguir retomar o discurso dos valores.
Foi assim também que, à beira-rio, se autorizou o recentemente inaugurado Hotel Altis. Pergunto-me com que autoridade e com que argumentos poderá amanhã a CML indeferir pedidos de hotel para o mesmo local? Foi assim - e aqui sem intervenção da CML e apenas por vontade do Governo e do Porto de Lisboa - que se construiu aquele monstro do Observatório Europeu Contra a Droga, que irá lançar o caos no trânsito da zona do Cais do Sodré e roubou já uma extensa área de vistas sobre o rio no centro da cidade (será que os senhores observadores precisam de ver os navios de perto para avaliarem se trazem droga a bordo?). Foi assim também que, no uso das suas prerrogativas de dona do Tejo, a APL lançou mãos à construção do novo terminal de navios de cruzeiro de Santa Apolónia - cujo projecto inicial, entretanto abandonado por demasiado imbecil e escandaloso, previa igualmente um hotel e um centro comercial em cima do rio. E foi assim que se chegou ao impúdico negócio da expansão do terminal de Contentores de Alcântara, negociado entre a APL e a Mota Engil/Liscont.
Há anos que mantenho uma guerra, já pessoal, com os senhores da APL, a quem chamo o 'inimigo público nº 1 de Lisboa'. Começou com o defunto POZOR, um plano de urbanização através do qual a APL se propunha construir em cima do rio nada menos do que um milhão de metros quadrados de edifícios de habitação e escritórios. Aquela gente, escudada na facilidade de dispor de dinheiros que não lhes saem do bolso, chegou a comprar páginas inteiras de jornal para publicarem comunicados contra a minha pessoa. E, há um ano, na sequência de um debate público sobre o Terminal de Passageiros de Santa Apolónia, quando lhes chamei "associação de malfeitores" (não no sentido criminal, mas no sentido cívico de quem só faz malfeitorias à cidade), puseram-me uma queixa-crime em cima: para vergonha deles, perderam na primeira instância e perderem na Relação, o que revela muito sobre a ideia que deles também os tribunais fazem.
Em Novembro passado, quando consegui finalmente ler o contrato celebrado entre a APL e a Liscont para ocupar com contentores toda a frente de rio do actual e histórico Terminal de Passageiros de Alcântara, tive vergonha de ser português. Vergonha de ser cidadão de um Estado que dispõe tão escandalosamente do património público a benefício de um negócio privado. Qualquer pessoa que queira perder uns minutos a pensar no assunto, facilmente chega à conclusão que o que faria sentido seria os contentores em Santa Apolónia e os paquetes de passageiros em Alcântara - onde sempre estiveram e fazem parte da paisagem adquirida da cidade e das suas memórias históricas. Em Santa Apolónia, os contentores estão geograficamente muito mais próximos das suas vias de escoamento normais, sejam férreas, rodoviárias ou fluviais; poupava-se o custo de fazer um novo terminal de passageiros e poupavam-se os 540 milhões de euros que a Refer, a CML e o MOP vão gastar para arranjar uma solução para o problema criado com o contrato celebrado entre a APL e a Liscont. Porque não fazem, então? Por uma razão indecorosamente simples: porque em Santa Apolónia houve um concurso público para adjudicação da área de descarga dos contentores e a Liscont, que ganhou a fatia de leão, tem de pagar três vezes mais pela ocupação do espaço do que paga em Alcântara - onde obteve a adjudicação directa e duas prorrogações sucessivas, a preço político e sem concorrência. Tão simples como isto. Tão vergonhoso quanto isto. Em trinta anos a olhar para aqui, já vi muita negociata, muita escandaleira: igual a esta, nenhuma outra. O Tribunal de Contas já a denunciou, sem apelo.
Agora, que a notícia já foi tornada pública, posso confirmar que, de facto, a CML e o movimento cívico contra os contentores de Alcântara, de que sou co-fundador e dirigente ('Lisboa, Tejo e Tudo', de um poema de Pessoa), têm andado a 'partir pedra' em várias reuniões para tentar chegar a uma solução que não implique mais um assalto ao rio. Julgo que António Costa é sincero na sua intenção de travar a demência da APL. Da nossa parte, as condições para baixar armas são simples: nem um metro quadrado mais roubado à frente de rio com contentores; nem mais um camião TIR a passar ali; a praça central destinada a uso e lazer públicos; e as Docas a funcionarem todo o tempo que durarem as obras. Mas, mesmo que isto seja conseguido - e com isso se extinguiria o objectivo do nosso movimento - restam as obras faraónicas, inúteis e injustificáveis que serão feitas a montante e que já não é assunto nosso. Mas é bom que os portugueses saibam que tais obras só serão levadas a cabo e ao custo de 540 milhões de dinheiros públicos, para que o Estado honre o contrato celebrado entre a APL e a Liscont - negociado parte a parte entre dois renomados escritórios da advocacia de negócios que tantas malfeitorias também têm trazido a este país. (E ainda acham que o louco é o bastonário da Ordem dos Advogados, quando denuncia este indecente tráfico de influências!)
Pessoalmente, já começo a ficar cansado de certas guerras que nunca verdadeiramente se ganham. Se os lisboetas gostam tanto de Lisboa como dizem, acreditem que já não há muito mais a defender e que as próximas autárquicas serão uma das últimas oportunidades para o fazerem. Vamos exigir a todas as listas, todos os partidos e candidatos que jurem publicamente que ninguém mais nos roubará um metro do rio que é nosso.

29 de maio de 2009

Alberto Caeiro - Hoje de manhã saí muito cedo

Hoje de manhã saí muito cedo,
Por ter acordado ainda mais cedo
E não ter nada que quisesse fazer...

Não sabia que caminho tomar
Mas o vento soprava forte, varria para um lado,
E segui o caminho para onde o vento me soprava nas costas.

Assim tem sido sempre a minha vida, e
Assim quero que possa ser sempre --
Vou onde o vento me leva e não me
Sinto pensar.


Eu, habitualmente, tb me levanto e saio cedo de casa mas, com destino, supostamente, definido por mim que tenho a mania que oriento os meus passos tipo... "Sei que não vou por aí"! do José Régio... Outro dia, disseram-me que esta de se ter sempre de ter um destino pré-definido tem a ver com insegurança...será!!?? Fixei este reparo pq nunca me tinha passado pela cabeça...mas, gosto de tudo organizar, assim sendo porque deixar o nosso quotidiano inteiramente à mercê de terceiros!!

24 de maio de 2009

Atenção

O selo que coloquei tem um erro ortográfico - é J'adore ton blog - que não retirei para não alterar mas fica aqui o alerta que recebi da minha amiga verdinha do blog Je vois la vie en vert ( será que tem erro ortográfico? )
Os meus agradecimentos

23 de maio de 2009

Desafio

Recebi este selo da minha amiga Gaivota do blog mareterra. Obrigada.

O que temos que fazer é o seguinte:

1º Colocar o selo no blogue
2º Divulgar as regras
3º Dizer 5 coisas que gosta de fazer
4º Indicar 10 blogues para os quais se reenvia o convite
5º Informar os blogues que receberam o selo

Cinco coisas que gosto de fazer:
. Estar com a família principalmente com os filhos cada vez mais fugidios
. Conviver, conversar, rir...
. Viajar sem ter de transportar bagagem para lugares longínquos
. Trabalhar com método, precisão e resultados à vista. Quer seja trabalho manual quer intelectual ainda a realização de qq tarefa implique sempre cabeça e mãos, não apresentando esta dualidade tipo mutuamente exclusiva.
. Passear, almoçar comigo...ter o meu tempo. Decidir por mim...

Os blogues escolhidos são os seguintes:

. Horizontes
. Riscos e Rabiscos
. Papoila
. Fragmentosdeumavida
. Arcoirisametro
. Sinaisparaouniverso
. Academiasv
. Osmeuspostaisantigos
. Vãoseosaneisefiquemosdedos
. Comunicarcomunicando
Agora espero ficar a saber um pouco mais dos gostos pessoais dos meus amigos!
Agradeço o vosso empenho nesta "árdua missão", e desejo um bom fim de semana!

17 de maio de 2009

Casa do Alentejo

Quem passeia na Rua do Coliseu, das Portas de Sto. Antão, em Lisboa, e passa pelo 58, não imagina o que se esconde por trás daquela porta, aparentemente igual a tantas outras e sem qualquer atractivo de especial.


É a Casa do Alentejo, que foi edificado para confratenização dos muitos Alentejanos que imigraram para a grande cidade em busca de melhores condições de vida.

Hoje em dia, pode-se assistir a tertúlias, cantares, e concertos de piano, principalmente ao Domingo.
Texto trabalhado a partir de inf recolhida na net, fotos minhas.

12 de maio de 2009

A Praça do Município - Um dos locais mais harmoniosos de Lisboa

Tirei estas fotos numas destas tardes, Esta praça estava lindíssima, ora vejam...

O edifício dos Paços do Concelho é um monumento grandioso, muito alterado desde a sua construção dado os vários pequenos e grandes incêndios a que foi sujeito, com assinaturas arquitectónicas e decorativas de nomes importantes como Domingos Parente da Silva, Calmels, José Luís Monteiro, Columbano Bordalo Pinheiro, Pereira Cão, Malhoa, entre outros.

A Praça, lado a lado com a fantástica Praça do Comércio, brilha com a presença do grande Pelourinho e deste Edifício construído na sequência do incêndio que, em 1863, destruiu quase totalmente os anteriores Paços do Concelho, que datavam da reconstrução pombalina da cidade após o grande Terramoto de 1755.


O edifício é visitável, bastando contactar a Câmara Municipal de Lisboa para tal feito, e rumar a um mundo de beleza e grandiosidade decorativa, naquele que é considerado como um dos mais belos edifícios de administração local do País.

Esta é talvez a melhor foto que já consegui tirar a este belíssimo espaço. Sabiam que a igreja, no canto esquerdo é uma garagem do Banco de Portugal!!!!!

Não há qq dúvida ...a minha cidade é linda...é do bem querer.....a minha cidade é linda...vou amá~la até morrer...
O texto foi trabalhado a partir de inf da net . As imagens são minhas.

9 de maio de 2009

*"A paciência é a mais sublime das virtudes" (provérbio chinês)*

Não deixem de ver até ao fim e depois meditem sobre o tema....

7 de maio de 2009

Colóquio “A Quinta de Vale de Flores – Conhecer para Salvaguardar”

Objectivos e Programa:
O colóquio “A Quinta de Vale de Flores – Conhecer para Salvaguardar” tem como objectivo, para além de demonstrar e difundir a importância da Quinta de Vale de Flores como exemplar ímpar da arquitectura civil portuguesa do século XVI, sensibilizar e esclarecer sobre a importância do conhecimento como instrumento vital no processo de salvaguarda do Património Cultural Edificado.
Público alvo:
Todos os interessados na temática da Arquitectura Civil do século XVI e na Defesa do Património Cultural edificado, nomeadamente Associações, Académicos, Técnicos e Decisores.

Data de realização:
Sábado, 23 de Maio de 2009

Lugar:
Auditório do Museu de Cerâmica de Sacavém, Urbanização Real Forte, 2685 Sacavém, junto ao Forte de Sacavém (arquivo da antiga DGEMN). Confirme a sua presença para o mail adpacs@gmail.com ou para o tel. 960109854. A entrada é livre mas está limitada ao
número de lugares do auditório.

Programa:
15h00 Abertura da Sessão - Cristina Mendes (ADPAC)
15h30 Início do 1º Painel de Comunicações
Um uso compatível para a Quinta de Vale de Flores”
João Vieira Caldas (IST)
“A documentação gráfica como forma de salvaguarda”
Luís Mateus (FAUTL)
16h30 Pausa para café
17h00 Início do 2º Painel de Comunicações:
Os contributos da Arqueologia da Arquitectura num projecto de salvaguarda de património edificado”
Maria Ramalho (IGESPAR)
"Metodologias de intervenção em património arquitectónico: como restaurámos ontem, como conservamos hoje!"
José Aguiar (ICOMOS - Portugal)
18h00 Debate, aberto ao público, moderado por Carlos Cardoso (Jornal Regional Triângulo)
19h00 Síntese conclusiva - Encerramento da sessão

4 de maio de 2009

A thing of beauty is a joy for ever

A propósito de um comentário que acabei de colocar no blog Horizontes - de uma amiga minha, a respeito de recordações antigas que nos ficam como tesouros...lembrei-me que eu e uma outra amiga de sempre, andámos juntas numa explicação de Inglês em Luanda, por altura do nosso 7º ano. e nela apanhámos uma mania entre obviamente muitas outras....
E a mania era esta uma de nós começava....a thing of beauty....e a outra logo acrescentava....is a joy for ever... sem a noção da verdade desta constatação que, tão só, uma vida vivida nos dá

Belíssimo poema de John Keats ora leiam

A thing of beauty is a joy for ever:
Its loveliness increases; it will never
Pass into nothingness; but still will keep
A bower quiet for us, and a sleep
Full of sweet dreams, and health, and quiet breathing.
Therefore, on every morrow, are we wreathing
A flowery band to bind us to the earth,
Spite of despondence, of the inhuman dearth
Of noble natures, of the gloomy days,
Of all the unhealthy and o'er-darken'd ways
Made for our searching: yes, in spite of all,
Some shape of beauty moves away the pall
From our dark spirits...
Acamaradávamos tanto que quando eu chegava a casa dizia para a minha mãe..."aí mãe hoje fartei-me de rir"!!

Ainda hoje, cerca de 40 anos depois, sempre que nos encontramos, quando ela vem a Portugal...nos fartamos de rir e tomamos o pequeno almoço no CCB, que tem esta linda vista que aqui vos deixo em homenagem às velhas e sempre tão actuais amizades.
Não resisto a acrescentar que ainda ontem ou antes de ontem me telefonou [do skipe para o fixo] e aprendi com ela que o "porque" nem sempre é pegado (sabiam??...eu não!!) .... é bom estar sempre a aprender mas ainda melhor é ter amigos....que me telefonam e que me lêem...
smileys smileys smileys

ViVa a PrImAvErA - clique e veja o desabrochar da Primavera. Prima no vidro da janela, aguarde um segundo e clique arrastando o rato pela tela toda, limpando a janela!

smiles
Eu respeito os direitos de autor. E tu?

Obrigado pelo comentário

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